Sons que falam
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Onde o dinheiro é tempo, onde a vida é demasiado contemporânea, onde tudo é medido, onde a realidade é vista pela janela de uma limousine, onde o futuro é o nada...
Todos sabemos a que se deve a crise: excesso de regulação dos mercados, comportamento especulativo da população em geral e sindicatos maquiavélicos, sempre a exigir ordenados e pensões milionárias para os trabalhadores e aposentados. Daí a minha surpresa com o escândalo Libor. Aparentemente, alguns bancos internacionais forneceram informações falsas sobre as taxas de juro que pagariam, caso contraíssem empréstimos de outros bancos (inadvertidamente, quero acreditar - quando se entra na casa dos biliões as contas ficam difíceis de fazer). A taxa Libor é baseada nestas informações e, por azar, afecta, a uma escala mundial, os empréstimos a particulares (por exemplo: créditos imobiliários), empréstimos a empresas, valores das seguradoras, fundos de pensões, fundos de investimento, etc. E por coincidência, uma pequena subestimação de taxas gera imediatamente um aumento significativo dos lucros. É só pensar que o banco aparenta ter uma boa saúde financeira. Entre os bancos envolvidos encontramos: HSBC, Royal Bank of Scotland, Barclays, Citigroup, Deutsche Bank, JP Morgan e UBS. Felizmente, bancos de pequena dimensão. Queria ver se fosse um Crédito Agrícola...
Entretanto, já foi encontrada uma solução: aplicação de multas (o equivalente financeiro a uma palmada na mão) e a eliminação da taxa Libor. Pretende-se encontrar uma taxa que faça o mesmo, mas de maneira diferente.
Serra!
e qualquer coisa dentro de mim se acalma...
Qualquer coisa profunda e dolorida,
Traída,
Feita de terra
e alma.
Uma paz de falcão na sua altura
A medir as fronteiras:
Sob a garra dos pés a fraga dura,
E o bicho a picar estrelas verdadeiras...
Miguel Torga, Diário II
(...) sou avaro daquela liberdade que desaparece logo que começa o excesso de bens.
Albert Camus
Há uma história taoísta de um velho fazendeiro que trabalhou as suas colheitas por muitos anos. Um dia, o seu cavalo fugiu. Ao ouvir a notícia, os seus vizinhos vieram-no visitar.
"Que azar!", disseram simpaticamente.
"Veremos", respondeu o fazendeiro.
Na manhã seguinte, o cavalo retornou, trazendo com ele três outros cavalos selvagens.
"Que maravilha!", exclamaram os vizinhos.
"Veremos", respondeu o velho.
No dia seguinte, o seu filho tentou montar um dos cavalos não domados, foi lançado, e quebrou a perna. Os vizinhos novamente vieram oferecer a sua simpatia por tamanho infortúnio.
"Veremos", respondeu o fazendeiro.
No dia seguinte, oficiais militares vieram à aldeia fazer o recrutamento de jovens para o exército, e passaram ao lado do filho do fazendeiro, ao ver que este tinha a perna quebrada. Os vizinhos felicitaram o fazendeiro pelo rumo que as coisas tomaram.
"Veremos", disse o agricultor.