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Delírio do Moscardo

"devagar, o tempo transforma tudo em tempo. o ódio transforma-se em tempo, o amor transforma-se em tempo, a dor transforma-se em tempo." José Luís Peixoto

Delírio do Moscardo

"devagar, o tempo transforma tudo em tempo. o ódio transforma-se em tempo, o amor transforma-se em tempo, a dor transforma-se em tempo." José Luís Peixoto

30.Set.12

Os Deuses das Finanças

 

   O Dr. Relvas e o consultor Borges foram discursar a um fórum no Algarve (iniciativa que, espero, não tenha afastado os turistas, nestes últimos dias de sol). O consultor foi recatado. Demasiado recatado. Limitou-se a passar um atestado de incompetência aos empresários portugueses, quando na realidade considera toda a sociedade imbecil. As gentes são ignorantes e um empecilho. Na sua concepção, há uma bipolarização necessária entre plebe e elite. A elite é uma classe composta por génios financeiros, à qual ele naturalmente pertence. Por outro lado, os plebeus devem acatar passivamente as teorias matemáticas perfeitas concebidas por estes deuses das finanças, de forma a ajustar, ao detalhe, cada indicador económico. Na sua universidade, não se perde tempo com pequenos pormenores como o bem estar das populações. Possivelmente, ensina-se que nem têm inteligência para argumentar seja o que for. Caso as magníficas teorias falhem, a população empobrece. Mas qual é o problema, se não é sequer dotada de raciocínio?

23.Set.12

Teus Olhos

Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima, 
silêncio que fala, 
tempestades sem vento, mar sem ondas, 
pássaros presos, douradas feras adormecidas, 
topázios ímpios como a verdade, 
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro 
duma árvore e são pássaros todas as folhas, 
praia que a manhã encontra constelada de olhos, 
cesta de frutos de fogo, 
mentira que alimenta, 
espelhos deste mundo, portas do além, 
pulsação tranquila do mar ao meio-dia, 
universo que estremece, 
paisagem solitária.

Octavio Paz
14.Set.12

País Unido

 

   Nunca um primeiro-ministro conseguiu unir tanto um país... contra o seu governo. Vemos personalidades como Santana Lopes, Manuela Ferreira Leite ( imagine-se!), Rui Rio e o Presidente da CIP tecerem críticas ao caminho definido por Passos Coelho. Quem prestou alguma atenção às fervorosas opiniões deste senhor, ainda antes de ser eleito presidente do partido, não deve ficar surpreendido. É um puro ultra-liberal que, já durante a campanha das legislativas, se refreou apenas o suficiente para ganhar as eleições. Agora, e depois da entrevista dada, nem aos mais distraídos pode escapar a tendência imoral e cega do seu pensamento. Sempre sereno, firme e solene no discurso, sabe muito bem o que quer e para onde vai. Deixamo-nos levar?

14.Set.12

Nem sempre Cassandra

   

   Em dias de completa retórica, retenho uma frase do ministro das Finanças, na sua entrevista: "previsões económicas são previsões falíveis". Vitor Gaspar sabe-o melhor do que ninguém. Soa, inclusivé, a premonição. E nesta premonição acredito piamente. Quando pressionado, acabou por admitir que não tem como garantir a forma como as empresas gerirão o bónus obtido com a descida da TSU. Garantiu que não irá para os accionistas. Fiquei logo aliviado: provavelmente apenas será distribuído como prémio pelos administradores.

09.Set.12

NeoImbecilidade

  Numa semana em que se conheceu a derrapagem abrupta do défice, apesar das brilhantes medidas de austeridade, e o BCE anunciou que poderá comprar dívida dos estados-membros, vem o primeiro-ministro anunciar um aumento em 7% na contribuição para a segurança social. Imagino a crise personificada, completamente desconcertada com a medida anunciada por alguém que supostamente a tenta combater. É uma estratégia ousada, que ultrapassa as mentes mais inteligentes. Apesar de não atingir a sua total compreensão, ocorre-me, de repente, uma boa razão para não resultar: uma gigantesca vaga de emigração vai deixar pouca gente a quem cobrar a nova taxa social única.

02.Set.12

Serviço Público de Televisão

   Finda a manobra de diversão protagonizada pelo "consultor para as privatizações", é importante esclarecer algumas questões:

  • O serviço público de televisão deve ser assegurado por uma empresa pública. Atribuir a gestão desse serviço a uma empresa privada é, com grande probabilidade, torná-lo uma simples máquina de propaganda corporativa, que terá em vista apenas o factor receita; 
  • A proposta de concessão pode ser considerada inconstitucional; 
  • A questão da sustentabilidade económica não é credível, uma vez que o Plano de Sustentabilidade Económica-Financeira apresentado pela administração demissionária da RTP previa que, a partir de 2013, o Estado deixasse de subsidiar a empresa através da indemnização compensatória;
  • O pagamento de uma taxa do audiovisual para uma entidade privada é, no mínimo, obscena; 
  • A existência decana da RTP, se criticável nalgumas opções estruturais e de programação, teve um papel fundamental para a afirmação da democracia e divulgação cultural em Portugal e nas comunidades emigrantes; 
  • O Governo não pode, como é hábito, desculpar-se com o acordo estabelecido com a troika, uma vez que esta questão nem sequer foi abordada. Na verdade, sugere que este tema será importante apenas para o ministro adjunto e dos assuntos parlamentares.

 

   Resta aguardar a decisão do Governo, que num pequeno teste traiçoeiro, quis medir o quão fracturante é o tema, para agora tomar uma decisão sobre algo que desconhecia e continua a desconhecer.