Três Cores: Branco
Branco é uma leve comédia romântica apenas na aparência. Há um nível de interpretação adicional, um humor negro subjacente, uma ironia intangível em todo o filme. Uma mala sobre o tapete rolante dum aeroporto é a cena inicial. Karol Karol (Charlie Charlie?) é um cabeleireiro polaco que procura evitar a separação da esposa, que se pretende divorciar devido à não consumação do casamento. A primeira das humilhações que este herói chapliniano sofre. A sua personalidade combina um misto de ingenuidade e malícia de forma desconcertante, cada uma assumindo as rédeas do seu comportamento alternadamente. Tendo perdido tudo para a esposa em Paris, e sem dinheiro para viajar, Karol regressa à terra natal polaca escondido numa mala. A mesma que inicia o filme. Metáfora perfeita da sujeição a um percurso desconhecido, cercado pelo alheio, por circunstâncias que o toldam. Regressa a uma Polónia transfigurada, onde o capitalismo começa a afirmar-se como um novo modo de vida e a sociedade luta por olvidar traumas de um passado comunista. Nesta nova Polónia, tudo é diferente: há mercedes, empresas multinacionais, dólares. O distanciamento do passado é visível na aversão à igreja e no rompimento com tradicionais valores morais. Os novos dogmas são os do mercado. Tudo se vende, tudo se compra... Desde que não seja russo. O individualismo afirma-se em toda a sua glória, o materialismo ganha força, a espiritualidade perdeu-se. A personagem principal parece não ter apelido. Não tem raízes nem terá continuidade, vive para o momento.
Onde está então a igualdade? Vemos um país recém capitalista a tentar afirmar-se no ocidente. Vemos uma história de amor onde o equilíbrio de poderes é alterado, com um certo toque de vingança. Talvez a igualdade seja impossível num casamento, ou talvez até seja possível, prescindindo de liberdade. Há algo de azul neste branco.