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Delírio do Moscardo

"devagar, o tempo transforma tudo em tempo. o ódio transforma-se em tempo, o amor transforma-se em tempo, a dor transforma-se em tempo." José Luís Peixoto

Delírio do Moscardo

"devagar, o tempo transforma tudo em tempo. o ódio transforma-se em tempo, o amor transforma-se em tempo, a dor transforma-se em tempo." José Luís Peixoto

24.Mar.13

Contas de Gaspar

 

   Recordem-se as previsões de Vítor Gaspar, dos principais indicadores macroeconómicos, para 2013.

 

Previsão de Maio de 2011
PIB: +1,2%
Desemprego: 13,3%
Défice: 3%
Dívida: 115,3%

 

Valor real em 2012
PIB: -3,2%
Desemprego: 15,7%
Défice: 6,6%
Dívida: 123%

 

Novas previsões
PIB: -2,3%
Desemprego: 18,2%
Défice: 5,5%
Dívida: 122,4%

 

 

Patético, no mínimo.

20.Mar.13

Em todas as ruas te encontro

 

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco...

 

 

Mário Cesariny

03.Mar.13

D. Quixote Clandestino

     Interessante, a obra Dentro do Segredo, de José Luís Peixoto. A concretização real de ideias ou lugares literários como a caverna de Platão ou do famoso 1984 de Orwell. O autor traça um retrato cru da Coreia do Norte, dominada por um dos regimes mais fechados do mundo, e um mundo só por si, relatando a viagem de 15 dias que fez pelo país. Começa pelas origens. Toda a península coreana esteve subjugada pelos japoneses nas décadas iniciais do séc. XX, época em que a população sofria as piores humilhações e atrocidades. A derrota do Japão na 2ª Guerra Mundial vem alterar o cenário geopolítico da região, criando uma divisão que ainda hoje persiste, o paralelo 38. O norte fica sob a influência política do comunismo soviético, enquanto o sul é controlado pelo capitalismo americano. Deste ponto em diante, a Coreia do Norte é consecutivamente liderada por "queridos líderes", "generais sempre vitoriosos", "sóis da humanidade". As linhas gerais do regime defendem a auto-determinação, a independência política, a auto-suficiência económica. Sempre houve uma boa dose de ironia nas ditaduras de base comunista. Na prática, recorrem ao exército como a força mais básica de controlo social, usam o culto e divinização da personalidade, dinamizam grandes eventos onde o fogo de artifício é preponderante, onde inesperadamente ofusca. Aqui mesmo, a população vive ignorante e na miséria, julgando que nada existe além do horizonte, numa felicidade e orgulho artificiais. Aqui mesmo, um estrangeiro não pode fotografar, filmar, levar telemóvel, levar obras musicais ou literárias (D. Quixote entrou clandestino), publicar qualquer registo do que viu. Também não pode andar sozinho na rua, não vá contaminar os locais com ideias reaccionárias.
     No fundo, todo o país é como o restaurante giratório do hotel de Pyongyang: não gira, nem no espaço, nem no tempo.