Embora lamente este tipo de circo perpetrado por alguma comunicação social, a verdade é que José Sócrates vende, seja para ser exultado ou insultado. Este empolgamento não é só responsabilidade dos media: a ausência de uma oposição forte terá facilitado, em muito, a amplificação deste regresso. Mas que não haja dúvidas. O ex-primeiro-ministro é o grande responsável pela chegada do empréstimo externo, e apenas uma alma muito inocente pode acreditar que seria diferente, caso o PEC IV fosse aprovado. O seu governo foi o que mais contribuiu para a subida da dívida, sendo que, apesar deste aumento, insistia teimosamente em avançar com obras megalómanas (leia-se TGV, aeroporto...). Voltando à comunicação social, é extremamente suspeito o endeusamento que tem sido feito a Sócrates por parte de várias figuras públicas. Se é fácil reconhecer-lhe talento comunicativo, é igualmente simples reconhecer a banalidade do conteúdo, por mais inflamada que seja a retórica. Mas ao contrário do que muitos defendem, não me parece que haja défice democrático neste tipo de escolhas para comentadores. Haverá até excesso. Dantes considerava-se indispensável a presença de comentadores políticos isentos e distantes da luta política. Agora, esta moda dos políticos comentadores demonstra que os cidadãos (ou pelo menos os canais televisivos) estão dispostos a aceitar opiniões baseadas em tendências ideológicas baseadas em pseudo-factos. Bastante original.