Era uma vez na Holanda
Uma história de tulipas. Era uma vez uma espécie de tulipa especial. Ao contrário das vulgares tulipas, possuía listas brancas que entremeavam o pigmento da flor, deixando as pessoas muito mais fascinadas. Na realidade, estas flores estavam contaminadas por um vírus, mas isso não vem ao caso... Esta tulipa fascinava de tal forma os holandeses, que estes chegavam a gastar uma verdadeira fortuna: o preço de uma casa em Amsterdão. Por azar, a flor só florescia na Primavera. Mas nada que impedisse o negócio: os floricultores passaram a vender títulos dos bolbos, ainda sem flor. Os compradores podiam esperar que a flor nascesse ou, ainda melhor, podiam vender os títulos no futuro com uma bela margem de lucro, tal era a valorização dos mesmos. Os mais "espertos" não chegavam a gastar um florim: podiam contrair um empréstimo para comprar títulos durante a manhã e vendê-los à tarde com lucro. Negócio garantido, tirando um pequeno problema: a quantidade de compradores dispostos a pagar o preço de uma mansão por uma flor é um recurso finito. Em simultâneo, descobriram-se umas falcatruas: muitos floricultores vendiam mais títulos do que os bolbos que possuíam, e algumas vezes nasciam simplesmente tulipas normais (nem todas eram infectadas pelo vírus). Como consequência, o "mercado" entra em desconfiança e o valor dos títulos cai abruptamente. Simples psicologia de massas. O resultado foi uma economia de rastos e pessoas na miséria. Claro que isto foi no séc. XVII. Desde então a raça humana evoluíu, cresceu, maturou, e não se espera que tal aconteça de novo. Com certeza que não.
Que não seja imortal,
posto que é chama,
mas que seja infinito
enquanto dure...
Vinícius de Moraes
Adaptado de Crash! Porque é que as economias vão ao fundo, de Alexandre Versignassi